segunda-feira, 20 de outubro de 2014

500 palavras




Eu não sei o que espero do mundo, mas tenho grandes aflições em pensar no que ele espera de mim. Ser bonita, ter um namorado, me sair bem na faculdade, me sobressair no trabalho, ser honrada filha, neta, sobrinha e prima, não soltar pum, ter um dieta equilibrada, fazer exercícios regularmente, ser simpática, sexy sem ser vulgar, ter um projeto de vida e – o que mais me causa mal estar – ser feliz. 

Não estou pronta para nada disso. 

Eu só penteio meu cabelo quando o lavo, e isso é só de três em três dias. Estou transitando para solteirice e abraçando esse “status” com muito alívio, se for para namorar que seja com um cara e uma mina ao mesmo tempo. Heteronormatividade e monogamia sucks! Eu odeio com todas as minhas forças estar numa universidade católica embora não exista forma de obter mais certeza que eu estou no curso correto e isso acarreta em: eu sequer tenho um emprego de verdade, a realidade é que fico passeando pra lá e pra cá com a minha tia. Em falar em família, cago e ando para o valor moral da família e do sobrenome, mas nada contra a galera que partilha de alguns dos genes comigo, inclusive muito agradecida, viu gente? Sobre soltar pum: não é regularmente mas eu faço isso onde quer que eu esteja, apenas baixinho para ninguém ouvir. Uma vez minha prima disse que japoneses, reis e rainhas da saúde, nunca deixam de soltar pum ou arrotar não importa onde estejam porque o organismo tem que se seguir seu fluxo ou coisa parecida. Eu aderi esta causa. Eu também larguei a carne e, oh my fuck, “você vai ter anemia,  menina!”. Tudo bem, gente, não será uma grande perda. Até porque eu lembro que não tenho um plano de vida mesmo, sequer um esboço. Sim, estou cursando Psicologia, vou fazer mestrado, doutorado e comprar uma casa, e juro que é como se fossem etapas tão naturais quanto as pessoas esperam de nascer, crescer, reproduzir, envelhecer, morrer, que não são imutáveis também, exceto o Psicologia e comprar uma casa, e nascer e morrer que são inevitáveis. Há alguns anos atrás, quando me imaginava mais velha, eu esperava ser celebridade, bem sucedida e magra aos 18 anos, e hoje ainda fico pensando “que merda, hein...” e cheguei a conclusão que a vida é assim mesmo, infelizmente. Não muda, não muda... entretanto, está sempre mudando. Paradoxal, constante inconstante e que parece que, sem querer, eu acompanho isso. 

Eu já disse para tantas pessoas por tantas vezes o quanto eu estou tão cansada que me embrulha o estômago imaginar que eu possa ser levada a sério, que é o que tanto desejo, carregando essas ideias, me portando e me apresentando dessa forma desajeitada que sou sou por aí. 

Talvez daqui uns anos eu lamente o conformismo, mas é melhor que muitos medos que eu estou cansada de carregar. 

Isso é o mais próximo que eu consigo chegar de apertar o botãzinho do foda-se.

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