Penso em ti como um fantasma, um erro espiritual
que me agraciou com tua presença por exatos sete meses e dez dias. Gosto da
estranheza que há em lembrar de almas penadas com tanta excitação como faço ao
lembrar de ti. As lembranças são sexuais com muito cheiro de suor, mas rondam a
minha mente trazendo meu coração a boca, traz gosto de amor que me alimenta.
Tuas mãos apertavam minha bunda gentilmente enquanto eu rebolava no teu colo, publicamente, nunca houve problema com isto. Nosso bar, nosso clímax,
nossas vadias. Tu percebes como é sempre diretamente para ti? Como não perco a
mania de falar contigo através desta banal produção? Uma vez tu me dissestes
que aquele meu primeiro texto sobre nós era teu preferido, lido sempre que tu
podias porque te trazia bem estar. Lembro que todos os nossos amigos
imediatamente mandavam meus textos para ti certificando que tu os leria caso
ainda não o tivesse feito, e me acostumei a escrever para você, morto querido.
Digo ter a influência do nosso velho safado em minhas palavras, talvez só em
minha cabeça meu erotismo barato sirva de lembrança de suas obras, e sinto que
devo esta satisfação a ti. É por você que comecei isto, às vezes penso que foste tu mesmo quem começaste. Estes dias com uma de
nossas amigas lembrei que o texto que escrevi pensando no cara por quem fui
apaixonada só aconteceu porque foi o primeiro dia em que nos beijamos. E eu não
gostei. Para ser sincera eu tive nojo. Da promiscuidade, do bar, da putaria na
mesa de sinuca. E você me fez gostar de tudo aquilo, teus papos sobre o quão
era bom estar no bar do Toninho com o resto da escória do mundo. Eu era parte
da escória, como você, como nossos amigos, como aquele hippie que você quase
bateu ou aquele mendigo que intimidou enquanto passava frio porque eu estava
com a tua jaqueta. Você me ensinou me aceitar como escória, eu te fiz sentir-se
bem com isto. Não nos amávamos, apenas éramos o
amor. E nós viemos para isto. O nada. Não é algo que devia ser para nós, não era assim que tinha de
ser. Foi uma terrível surpresa que eu aceito com amor, sabes por quê? Porque tu
foste e sempre serás o homem que mais me surpreendeu, dia após dia,
incansavelmente sem nenhum esforço. Lembre-se de tudo o que eu te disse,
criança.
Não sei porque escrevo, mas sei que por quem.
Por (e eternamente para) você.
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