Geralmente é vermelho e forte.
Preso levemente entre os lábios, a fumaça entra na boca com uma leve sugada,
invade a garganta ferozmente e ocupa o pulmão por pouquíssimos segundos até
fugir à nossa triste realidade novamente. É densa e branca, expelida pela boca
em forma de uma grande baforada de desabafo. Devia ser sufoco, mas é
prazer que mata aos poucos. Lentamente nosso vício vai nos levando, desta vez,
juntos.
Ele fuma seu cigarro, enquanto
eu fumo o meu. Quem acha o isqueiro primeiro acende o cigarro de ambos. Às
vezes dividimos o mesmo e tem se tornado cada vez mais comum colocarmos o
cigarro um na boca do outro sem perguntar se é mesmo isto que o outro quer. A
gente sabe que precisa de mais uma tragada.
A fumaça que eu passei
diretamente da minha boca para a dele pude notar que demorou em voltar para
fora. Talvez ele quisesse um pouco do ar dos meus pulmões nos dele por mais
tempo, ou era só exibição da sua capacidade respiratória.
Andamos agarrados, nossas
bocas não se descolam nem mesmo se estivermos caminhando ou dançando. É o que chamariam de sintonia. Uma perfeita
harmonia boa para relações que estão se iniciando, olhos sempre atentos
conversando. Isto fará muita falta quando acabar, então aproveito o hoje
pensando que o amanhã não existe. Não me preocupo. Tudo vai ser como tiver de ser,
porque, agora, eu não espero nada além do próximo cigarro.
“Acende logo esta porra enquanto
a gente não se beija.”
penso, porém não falo.
Eu uso meu isqueiro para acender o seu cigarro, ele traga e abre um sorriso.
Eu uso meu isqueiro para acender o seu cigarro, ele traga e abre um sorriso.
Então acendo o meu, desabrochando.
Um comentário:
A leitura fluiu como fumaça de cigarro fazendo círculos no ar. Gostoso.
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